CRÔNICAS FALAS CONTADAS

ADEUS, LUNA

“É no silêncio que sinto mais a sua falta. Quando minha mente tem a chance de vagar e meu coração tem um momento para lembrar.”
Lola Lawrence

Se o amor pudesse salvar nossos cães, eles viveriam para sempre.

Dizem que a melhor maneira de seguir em frente após a morte de um animal ou pessoa amada, é abraçando o luto – que nunca cessa, porque estancar o luto seria como tentar parar o oceano. Nesse contexto, o que se pode fazer é achar formas de nadar.

Eu vou sentir saudade dos anos que ainda faltavam para Luna. Das brincadeiras de correr que ela amava e não pudemos continuar – a displasia foi o golpe fatal em suas patinhas tão judiadas.

Já sinto falta de sua preguiça matinal (igual à minha), da cantoria de bom dia, do ritual de limpar seus olhinhos, colocar pomada nas feridinhas (que nunca cicatrizavam), das brincadeiras pra ajudá-la a descer as escadas, dela encostada na minha perna durante a noite toda, de dormir ao seu lado, das inalações e massagens (quase diárias).

Não vou me perdoar nunca por não ter feito mais. Mas vou esperar que, ainda assim, tenha conseguido compensá-la um pouco pelos tempos de sofrimento e abandono que viveu antes de chegar até nós.

Vou tentar me convencer que tenha vivido conosco dias de paz e aconchego. Que tenha percebido que meu (nosso) amor por ela era gigante.

Vou me lembrar todos os dias de sua doçura – porque ela nunca a perdeu, era dona de uma suavidade única. Até seu último instante, ela manteve a ternura no olhar.

Sei que vou me acostumar – a vida sempre avança a despeito de nossos lamentos -, e a gente segue com as memórias do que foi e também do que queria que tivesse sido se pudesse controlar o tempo, se o querer pudesse se sobrepor à realidade que desejamos evitar.

A delicadeza de Luna vai permanecer nos momentos em que os pensamentos me tirarem o ar, comprimirem o peito, dilacerarem o ânimo em angústia.

Vou torcer para que a lembrança de sua doçura me salve de não tê-la mais aninhada aos meus pés enquanto trabalho, durante as refeições, quando assisto TV. Já sinto falta até das noites tumultuadas em que nos chutava por conta dos seus traumas.

Eu não esperava perdê-la agora e vou me arrepender pra sempre da decisão final, mas vou tentar me acalentar com a ideia de que foi por amor – sem qualquer certeza de algum dia me convencer disso.

Já se vão dez dias e depois de um tempo vou parar de chorar todo dia, mas sabemos que as lembranças estão sempre à espreita, prontas para nos arrebatar no sobressalto. No silêncio. Na hora mais escura das noites. E a verdade é que isso nunca acaba…

Durma bem, minha menina. Sinto tanto… Você será sempre nossa “filha eterna”… Adeus… 🖤♥️🐾🐾♥️🖤

Para Luna • 🌟Adotada em 31/07/2017 (+/- 3 anos) • 💫🌈 15/05/2023


Deixo um agradecimento à Dra. Valéria, da Pet Arouche, que através das Protetoras Independentes da Granja Viana nos trouxe a Luna – foi um presente inestimável.

Adote um animal abandonado. Se possível, adote um animal adulto. Não abandone animais.

Se quiser, leia a história da Luna aqui. 

Débora Böttcher
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Débora Böttcher

Débora Böttcher

Formada em Letras, com especialização em Literatura Infantil e Produção de Textos. Participou do livro de coletâneas "Acaba Não, Mundo", do site "Crônica do Dia", onde escreveu por 10 anos. Publicou artigos em vários jornais. Trabalha com arte visual/mídias. Administra esse portal - que é uma junção dos sites Babel Cultural, Dieta com Sabor, Hiperbreves, Papo de Letras e Falas Contadas.

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