Chovia. Ela também. As lágrimas ofuscavam sua visão. Passava os dias na janela da alcova. O olhar prendido na dança triste das folhas outonais, e nos caminhos sem pisadas do parque. O mesmo parque que ele deixara de frequentar. Não morava ninguém. Um prédio velho e vazio, que no dia seguinte iriam demolir. Mas, seus olhos não mentiam. Ela estava naquela janela, e nos seus sonhos. Ouviria seu coração e iria uma última vez. A chuva batia forte. O vento golpeava as árvores. O nevoeiro tinha engolido a cidade. Correu para não ser engolido e entrou no parque. Ela ouviu o crepitar das folhas. Ele vislumbrou a sombra na janela. Ela arrancou a crinolina e voou escada abaixo. Ele cruzou a rua. Não viu os faróis do carro, nem ouviu os gritos das pessoas no ponto do ónibus. Viu, sim, que ela saia do portal e caminhava até ele. Abriu os braços. Sabia que nunca desistiria de mim, disse ela, antes de fundir-se num abraço. Atrás ficou um jovem tendido na calçada e um velho prédio a ponto de de ruir.
| Yolanda Serrano Meana |
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