Ninguém contou a ele. Ninguém o educou para encarar o fato. Ele aprendeu sem que a vida lhe poupasse dos detalhes. Tudo tem fim. Todos têm fim. Compreende que, em um mesmo dia, muito se acaba. Muitos acabam. Que sentimento pode ser breve e afiado. Que pessoas podem ser rasas e desafiadoras. Nem todos têm a coragem de se render aos próprios sentimentos, tampouco mergulhar nos alheios. Ele é autodidata no sentimento. Ninguém o catequizou, Deus, o diabo, outro ser humano. Assumiu-se cético. Não crê no definitivo. Aprecia as variáveis. Porém, é dos que confiam em seus afetos. Empatia é sua fraqueza, mas não se importa em sofrer por ela. Às vezes, pega-se a experimentar da dor em uma latência que é dos escândalos. Chora e sorri sem embaraço. Não se envergonha de sua tristeza ou de sua felicidade. Envergonha-se por aquele que passa em branco pela vida. Para ele, passar em branco pela vida é a passividade mais assustadora que existe. Por essa escolha, a alma amortece. Ressente. Sucumbe.
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