Entredentes, diz assim, a voz desprovida de ritmo, que sim, sim, por que não seria sim? Por que não? Talvez porque o sim saia dela assim, entredentes, a voz embrutecida pelo ritmo afirmativo ecoando externamente, enquanto o não está aos berros dentro dela. É tradição, repete a si. É servidão, revela a si. É cultural, entoa o mantra. É escravidão, engole em seco. Sim, ela diz. E sorri o sorriso dos que não têm escolha, imaginando como será sua vida neste aceite. Enquanto outros definem seu caminho, seu espírito, esse desavergonhado, abraça a liberdade, viaja para longe. Ela sorri copiado. Atuação de aprazimento. Alguém a escolheu, que ela atende a todas as demandas, menos aos seus desejos. Por fora, ela é apenas mais uma a se curvar à tradição, à crença, à cultura na qual nem mesmo acredita. Por dentro, nunca saberão, ela vive livre, como jamais viverá nessa realidade que a torna moeda de troca. Que a torna servil aos desejos que não os dela. Não os dela.
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