Não sei exatamente como soube do livro de minicontos de Leonardo Sakamoto. Acompanho o jornalista eventualmente na Folha, com seus textos políticos e sobre direitos humanos, e nunca soube que tivesse uma veia poética – embora seus escritos embarquem por linhas sensíveis, uma prosa às vezes delicada.
Apaixonada por contos breves, fui em busca do livro e descobri que, publicado em Outubro de 2012, teve uma segunda reimpressão em Dezembro de 2015 – ainda assim, de tiragens pequenas, o que indica que encontra-se poucos exemplares ainda à venda (o meu, adquiri na Saraiva).
Lê-se numa faísca de tempo – essa é uma das vantagens dos minicontos – e esses seguem o padrão: histórias inteiras contadas em um único parágrafo.
O formato do livro também é um aconchego: no tamanho compacto (18×12 cm) e com pouco mais de 120 páginas, a leitura é quase dinâmica – quando a gente se dá conta, está de cara com a última narrativa.
Mas é isso que o faz tão peculiar. Embora recheado de relatos em sua maioria tristes e com a morte como tema central, as histórias permeiam uma realidade paralela, inventada – embora o autor diga que tenha se inspirado em passagens vividas -, passeando pelo surreal, numa prosa leve, e muitas vezes comovente. A poesia também está presente, assim como alguma alegria. Há vestígios de verdades possíveis em alguns contos, mas a ficção impera.
Em sua apresentação, o próprio autor já avisa que seu campo é a política e que não é contista – como se quisesse explicar um desvio em sua trajetória de ofício. Não precisava. Sakamoto, apesar do estranhamento que causa aos que descobrem esse seu livro, não desaponta -muito pelo contrário: banha o cotidiano de delicadezas que só uma mente sensível e repleta de empatia é capaz.
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