Era uma mulher triste, e ela o sabia. Conhecia a tristeza em toda a sua extensão e profundidade. Vivia ensimesmada. Com o olhar no chão. Um dia, nem lembrava quando, disseram-lhe que o mundo era um vale de lágrimas. Acreditou piamente. Seu mundo se tornou cinza. Seus olhos eram incapazes de distinguir qualquer outra cor. Por muito que perscrutasse dentro dela, não percebia motivo algum para ser feliz. Aliás, desconhecia o significado da palavra felicidade. Era mestre em ver o lado ruim da questão. Se chovesse, imaginava dilúvios e desastres. Se fizesse sol, prognosticava queimadas, aridez, fome. Treinada desde menina, era danada de boa em prever desgraças. Mas naquela manhã de primavera acordou com um sorriso nos lábios. Ficou preocupada. Sua boca esticava-se sem que a pudesse controlar ou soubesse o porquê. Sentia uma comichão no rosto e um incontrolável desejo de rir. A intuição levou-a até a janela. Sim, ele estava ali, na calçada, olhando-a, como no sonho. Assustou-se.
Últimos posts por Yolanda S. Meana (exibir todos)