Em boca fechada não entra língua. Falta música no recinto. Ao desejo se oferece tímida liberdade, creditando a ele o rótulo de pecado. Corresse pela sala, na rapidez imaginada, levantaria as saias do pudor, para lhe espiar as partes menos tocadas pelo olhar da espontaneidade. Faria festa no funeral da intolerância. E tudo se passa em seu dentro, feito espetáculo sendo apresentado no palco. Fora de si: silêncio indigesto para controlar rompantes, declarações de tementes ao frenesi da felicidade. Gente que teme a felicidade lhe dá nos nervos. Tudo muito correto, sem sal nem açúcar, ambiente assepticamente equivocado. No seu dentro trafegam histórias que vive sem que ninguém saiba. Enquanto um discursa sobre o nada, o tudo lhe acontece em deslumbramento. Não pode deixar de imaginar como seria se conseguisse externar seus abismos e delírios, seus acontecimentos internos. Certamente, abriria a boca, convidaria língua para entrar e dançaria – a música escandalosamente alta – até o amanhecer.
Barcelona Mannequin, © Salvador Dalí |
- RETRATO - 26/07/2016
- SIM - 09/07/2016
- SOBRE CELEBRAÇÕES - 21/06/2016