Quando menina, ela viu um inventor, na televisão, falando sobre sua criação, a que mudaria o mundo. Desde então, inspirada pelas palavras dele, entoa o mantra, assim que acorda, e antes de dormir, logo depois da oração: eu vou mudar o mundo. Não importa como, sendo ascensorista, cozinheira, diretora de agência de publicidade. Lavadeira, design de jóias, policial. Escritora, editora ou telefonista. Dona de bar, de carrinho de cachorro quente. O que importa é que mudará o mundo de forma positiva. Coloca o pacote sobre a mesa da cozinha e vai preparando tudo. A casa onde vive foi dos seus avós, dos seus pais e agora é dela. Despe o bolo do pacote, fincando nele uma vela para representar os cinquenta anos que está completando. Senta-se, acende a vela, fecha os olhos e diz: eu vou mudar o mundo. Sopra a vela e então olha a sua volta, recolhendo o sorriso. O tempo passou assim, escasso em movimentos. Ela passou assim. Entristece de um jeito, porque tudo continua no mesmo lugar, inclusive ela.
© Mônica Côrtes
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