Dizem que nossa bagunça interior se reflete em nossa casa, à nossa volta… Faz parte da sabedoria popular a máxima de que sempre que nossos armários estão bagunçados nossa vida interior precisa de uma arrumação… Quem sou eu pra discordar…
No entanto, essa semana, ao olhar para minhas gavetas, estantes, armários e prateleiras todas graciosamente desorganizadas, me perguntei se esses ditos populares devem ser levados ao “pé da letra”.
O fato é que: moro em uma cidade grande, em uma casa com duas crianças, duas cadelas e um marido. Tenho um tempo bem curto entre uma atividade e outra e quando ele sobra, corro pra olhar de perto cada um deles com mais atenção e amor. Entre organizar a confusão diária e correr para o abraço, não penso duas vezes, e assim a semana passa e a bagunça fica.
Quando chega o final de semana me proponho a colocar tudo em ordem e o faço. Quase todos os domingos tiro um tempinho para algumas perguntas: Ainda uso isso? Porque guardei aquilo?
Eventualmente me deparo com alguma roupa esquecida ou experimento aquele vestidinho que guardei dos tempos em que era um pouquinho mais magra… Jogo fora os milhares de papéis que acumulo semanalmente na bolsa e recolho as moedinhas…
No meu escritório devolvo os livros lidos às prateleiras, escolho no criado mudo o eleito dos próximos dias, arrumo a dispensa para nunca deixar faltar uma delícia noturna e vou recolhendo os rastros das brincadeiras, jogos, filmes que a turma vai deixando pela casa enquanto vive.
Reorganizo as minhas gavetas do banheiro, penduro os casacos – as vezes vou encontrar qualquer uma das minhas coisas embaixo ou em cima de algo no quarto das crianças (geralmente embaixo).
E então, fico a pensar se realmente minha casa fica bagunçada por que estou com minha vida interior bagunçada ou se não fica arrumada por que nela se vive, e a vida nem sempre é arrumada e organizada.
Penso que essa “bagunça” faz parte de minha reorganização diária. Acredito que ela é saudável e positiva e reflete os meus passos. Olhar o que vestir e o que não quis vestir; olhar nos papeizinhos por onde andei, o que comi, o que comprei; se usei tênis pra correr ou se o fiz de salto alto. Quantos livros li, os filmes que separei e não assisti, o casaco que ficou cheio de pêlo da manta do sofá de alguém que visitei… Reflete minhas escolhas e me aponta que faço essas escolhas pautadas nos meus desejos todos os dias. É uma atividade terapêutica!!!
Geralmente depois da arrumação, faço o planejamento da nova semana, que só vou saber se cumpri no próximo final de semana – se não fizer o Sol que fez hoje, por que se fizer, talvez minha arrumação seja adiada para um domingo de chuva…
A cada dia que passa penso que a sabedoria popular é relativa, que a certeza é incerta e que a verdade não é absoluta… E assim, agradeço por viver a minha vida vivendo, revivendo, ensinando e aprendendo, morrendo e nascendo, desacreditando e crendo, bagunçando e arrumando…
Talvez um dia minha casa fique totalmente arrumada, mas arrisco a dizer que se um dia isso acontecer, aí sim minha bagunça interior crescerá.
Casa é para ser vivida, aproveitada… Na bagunça que pode ser arrumada, reside a vida… vivida ou deixada sobre a cadeira da sala.
- AS ELEIÇÕES NO DIVÃ - 16/10/2018
- MINHA BAGUNÇA PRECIOSA - 19/06/2015
- QUE A MORTE NOS SURPREENDA VIVOS! - 09/06/2015