Vem aí o Natal e – em qualquer tempo – a nossa dica é: dê livros de presente!
Então, vamos a alguns títulos que podem agradar a várias personalidades pra você prestigiar a literatura e espalhar cultura, entretenimento e aprendizado por aí.
O filho de mil homens, do escritor português Valter Hugo Mãe [CosacNaif], narra a história do pescador Crisóstomo, “um homem que chegou aos quarenta anos e assumiu a tristeza de não ter tido um filho”.
Com vontade imensa de ser pai, o protagonista conhece o órfão Camilo, que um dia aparece em sua traineira. Ao redor dos dois, outros personagens testemunham a invenção e construção de uma família em vinte capítulos, escritos com rara delicadeza.
O autor, ao falar de uma aldeia rural e dos sonhos anulados de quem vive nela, atravessa temas como solidão, preconceitos, vontades reprimidas, amor e compaixão.
As narrativas mais parecem contos individuais, mas enquanto desenvolve a trama, o autor vai entrelaçando os personagens de um jeito terno e quase triste…
O romance da escritora Carla Dias – que em 2016 lançará mais um título -, Jardim de Agnes, se passa em Ibidem, uma cidade na qual se transformou o jardim da casa do avô de Agnes, ela trava uma batalha contra o pai para tentar salvar o povoado da manipulação e ganância – pretendendo tomar posse da fortuna da família, ele não mede esforços para desacreditar a filha jovem.
Essa guerra transforma a paz do lugar – onde também Hugo, Beto e Junior vão viver para tentar esconder-se da sociedade após serem julgados e inocentados por um crime que não cometeram – num campo minado de leis controladoras pela ânsia do poder. Esquecida no meio do deserto, essa atmosfera incita a rever valores.
Mas é quando esses quatro personagens se encontram, que a inquietude ganha força. O encantamento de Hugo – o narrador – por Agnes é que vai desfiando a meada de conceitos arraigados, nos fazendo refletir sobre a vida sob o olhar reacionário da moça, que consegue ser delicada e voraz na mesma medida. E é ela, com sua irreverência doce, que dará rumo às vidas que habitam Ibidem: um lugar que parece viver dentro de nós. [Adquira aqui.]
A elegância do ouriço” de Muriel Barbery [Companhia das Letras], conta a história da ligação, bastante improvável, de uma menina rica de 11 anos e uma mulher pobre de 54 – ‘improvável’ porque, afinal, o que pode haver em comum entre pessoas de gerações e níveis sociais tão distantes?
Muita coisa… A começar pela inteligência de ambas, até a perspicácia, o olhar sem retoques para as pessoas e o mundo, a sensibilidade para a arte e a literatura, a inclinação ao silêncio e à reflexão, o despojamento, a profundidade de pensamentos capaz de analisar, sem paixões, tudo que as cerca.
Paloma, a adolescente, e Renée, na outra ponta do tempo, não economizam ponderações sobre a existência fútil e passional, despropositada, e as duas conseguem perceber, mesmo estando em lados opostos, todas as máscaras sob as quais os seres humanos se escondem… O filme baseado no livro é o francês “Le Hérisson” – que não conseguiu captar toda a essência do livro na minha visão.
Contado em duas vozes, em capítulos intercalados, o livro é leve, rico em detalhes de sentimentos e percepções. Uma leitura excepcional e, às vezes, um pouco triste – daquelas tristezas profundas, próprias das tragédias sem sentido, que sempre nos lembram que tudo muda num segundo – para o bem e para o mal: a impermanência.
O romance publicado em 2000, depois de onze anos de ‘silêncio’ do escritor Milton Hatoun, relata a tumultuada relação entre dois irmãos gêmeos, Yaqub e Omar, em uma família de origem libanesa que vive na Manaus pós período de grande efervescência econômica e cultural do início do século XX, do porto à margem do Rio Negro – a cidade e os arredores do rio, as transformações, as ruínas e a passagem do tempo.
A narrativa se discorre pelo olhar de Nael, o filho da empregada (Domingas), que busca entre os homens da casa a identidade de seu pai. Os dramas que presenciou e as histórias que ouviu – sempre calado -, e guardou na memória, são sua única ponte para reconstruir seu passado em busca de respostas.
Cheio de avanços e recuos no tempo, sem cronologia linear, a trama de paixão, amor, ódio e vingança vai se revelando aos poucos ao leitor. E não se revela totalmente quando o livro termina: muitas indagações não se concluem e cada um vai desenhar um desfecho diferente.
Mas o que fica claro, é como os vínculos familiares são tênues, os sentimentos oscilam, e como os laços de sangue nem sempre são suficientes para manter a união. Pelo contrário: as disputas – pelo amor dos pais, de outros irmãos e demais pessoas ligadas à família -, podem ser o grande detonador de elos fraternais.
Outra coisa que surpreende é perceber como uma personalidade implacável se molda na serenidade, o ressentimento de uma vida despejado de forma calculada, sem pressa, nem alarde.
Dois Irmãos é um livro que nos faz repensar todo o conceito de família e que nos coloca de frente a embates que muitas vezes vivenciamos sem perceber.
Vencedor do Prêmio Jabuti 2001 de Melhor Romance, recentemente o livro ganhou uma versão em HQ (história em quadrinhos) pelas mãos dos premiados autores Gabriel Bá e Fábio Moon, na qual Milton Hatoum foi essencial para que os autores pudessem desenhar a cidade como era no século 20, época em que se passa a narrativa. Vale ler – ou presentear – as duas versões.
“Onde não se responde”, da jornalista, escritora e chef Claudia Letti, – que escreve em Estilo 40 -, também ‘conversa’ com mulheres.
Ele é resultado do apanhado de publicações de Afrodite sem Olimpo, o nome do primeiro blog de Claudia, um dos mais lidos no auge da era que deu início às postagens diárias.
A coletânea de posts, crônicas e poesias reunida no livro, compila textos que conseguem ser densos e leves na mesma proporção – uma medida dosada com muito bom humor. Suas palavras, delicadas e sinceras, contam histórias de uma mulher multifacetada pelas diferentes situações que a vida lhe apresenta todos os dias em cenas que nos remetem para acontecimentos em nossas próprias vidas.
Nesse livro, a autora declara seu espanto pela amplitude do universo que a provoca, descrevendo suas experiências ora com certezas, ora imersa em questionamentos. [Adquira aqui.]
Os livros de Juan Pablo Villalobos [Companhia das Letras] são outro primor. Nascido em Guadalajara, no México, o autor morou alguns anos no Brasil (mais precisamente em Campinas, no interior de SP), e agora vive em Barcelona, na Espanha.
A trilogia “Festa no covil”, “Se vivêssemos em um lugar normal” e “Te vendo um cachorro”, não tem propriamente uma sequência, mas é assim classificada por conta da idade dos personagens. Caracterizados como mini-romances, com narrativas sempre em primeira pessoa, o autor usa os três livros para fazer duras críticas ao México. Em “Festa no covil” ele aborda o tráfico de drogas sob o olhar inocente de uma criança – filha de um poderoso chefão do narcotráfico. Segundo li, há uma versão sendo adaptada para o cinema.
Já em “Se vivêssemos em um lugar normal” o olhar recai sobre o País em revolução do ponto de vista que oscila entre um adolescente entediado e o adulto raivoso em que ele se transformou, sua percepção da luta de classes e do papel insignificante e triste que sua família ocupa no mundo.
Em “Te vendo um cachorro” a voz é da velhice, com um personagem de 85 anos relatando suas memórias em meio ao pouco caso das autoridades mexicanas em relação aos idosos.
Não é necessária a leitura na ordem e todos eles são uma excelente reflexão sobre a vida – com desfechos surpreendentes, encerramentos inusitados, impactantes e repentinos, as narrativas deixam uma sensação de ‘quero mais’. O autor tem uma coluna mensal no Blog da Companhia das Letras – que publica seus livros no Brasil.
Chapeuzinho Amarelo, de Chico Buarque – esse mesmo, o compositor e cantor – é um primor: um clássico da literatura infantil brasileira, foi publicado em 1970, e relançada em 1979 com as ilustrações do grande chargista Ziraldo. Foi condecorada com o selo Altamente Recomendável para Crianças da Fundação Nacional do livro infantil e Juvenil (FNLIJ), em 1979 e ganhou o prêmio Jabuti da Câmara Brasileira do Livro (CBL), em 1998.
O livro aborda um tema comum às crianças – o medo. Chico conta a história de uma menina com medo do medo -uma menina amarela de medo – que transforma a fantasia dos contos em sua própria realidade, chegando ao ponto de não brincar, não se divertir, não comer, nem mesmo dormir.
O Menino que queria ir, de Blandina Franco, é um livro ilustrado que pretende mostrar um simpático menino com olhos ávidos, que não tem nome, mas que tem muitas vontades.
Testando suas aptidões, ele começa um percurso que se incia dentro da confortável barriga da mãe e vai ganhando novos horizontes – como o quintal de casa, a rua, a cidade, outros países. Nessa aventura movida por uma combinação de coragem e vontade de desvendar o mundo, o menino chega até ao espaço sideral, destino imaginário preferido pelas crianças que não conseguem (nem querem) parar quietos.
Para dicas de mais livros infantis, clique aqui.
- O AMOR ACABA - 15/12/2023
- MAURA LOPES CANÇADO – O QUADRADO DE JOANA - 23/04/2023
- O MANIFESTO: “DOMINGO A GENTE FAZ UM PAÍS.” - 22/10/2022