Bateu a porta com raiva e saiu de casa. Atravessou o jardim com um palavrão entalado na garganta: Cocô. Ia correndo, os pés a tropeçar nas pedras. Uma chuva fina e persistente molhava suas ideias e os cachos. Não a sentia, a raiva era maior. Alguém a saudou, mas ela não estava a fim de papo. Os pensamentos atordoavam-na. Não entendia porque as coisas tinham que suceder assim, sem mais nem menos; sem que ninguém a tivesse avisado antes. Como era possível que não a tivessem consultado, contado com ela, pedido sua opinião, ou sei lá… afinal de contas ela também era da família, ou não? Embaixo da chuva, molhada e com fome, sentia-se um zero à esquerda. Sentiu as lágrimas escorrerem, quentes e salgadas, tão diferentes da chuva fria e sem gosto, que continuava a cair. Viu seu quarto quentinho, a lareira da sala, o almoço de domingo, as reuniões em família… Um irmãozinho! Compartilhar toda sua vida com um irmão! Mas a mamãe amava-a há bem mais tempo, VIU! refletia enquanto regressava.
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