Ele sempre reclamava de sua calma e dureza, quase uma indiferença, dizendo que lhe faltava entusiasmo – para o bem e para o mal: tanto fazia se a notícia era “vamos a Paris” ou “roubaram nosso carro”. Ela pensa sobre isso enquanto vela seu corpo e observa os cinco filhos num show de lágrimas exageradas. Do alto de sua dilacerante dor, a cena lhe dá vontade de rir: eles nunca o visitavam, raramente telefonavam, não se importavam com o pai. Tem vontade de gritar também: aos berros colocá-los pra fora. Mas mantêm-se impassível no canto da sala, os óculos escuros camuflando a indignação. Eles sabem que os observa, mas não se aproximam – e nem adivinham que a madrasta, agora, só espera pela abertura do inventário, que revelará a vingança magoada do marido: doou toda sua herança para ela.
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