HIPERBREVES

CONDOLÊNCIAS

“Vai tarde”, escreveu num papel azul acetinado. Achou-o numa gaveta da mesa de escritório que herdara da avó. Ainda cheirava a rosas, ligeiramente. Já a caneta esferográfica estava, junto com outras tranqueiras, numa das prateleiras da despensa. Lembrou-se que a jogara lá anos atrás. Ganhara-a, junto com um cartão postal cheio de corações, e assinado por quase todos os ex-colegas, no almoço de despedida que o mesmo chefe que a demitira, insistira em lhe dar. Ela não queria ir, até inventou mil desculpas, mas no final sentiu-se obrigada e foi. E fez bem, alegrava-se agora, enquanto escrevia, com letra cuidadosa, a nota de condolências que, discretamente, deixaria no velório…

Yolanda S. Meana
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Yolanda S. Meana

Yolanda S. Meana

Jornalista e escritora.
Vive na Granja Viana.