Folheia livros. Às vezes, um. Outras vezes, tantos. Díspares temas, todos deitados sobre a escrivaninha. Antecipa em vinte e cinco minutos o relógio. Nunca chega adiantado. Engana a si por mais vezes do que deveria. Nele se misturam o que é inventado e o que – legalmente definido pelo universo – é verdadeiro. Roga a Deus para que jamais o belo seja definido. Tem ojeriza às definições, principalmente as que limitam as variações sobre o belo. Ele mesmo foi definido insípido, certa vez. Tantas centenas de tempo depois, eles o definiram gênio. Que genialidade é essa que eles reconhecem, enquanto ele se sente um tolo às voltas com excentricidades? Como gritar alto, bem alto, só para evocar eco. Esconder o livro preferido, para que ninguém mais possua aquele exemplar. Roçar a pele das paredes, em busca de estrias de lembranças. Pequenas pistas. Salutares tormentos. Providenciais abismos. Vida, para ele, é labirinto. Tudo se enverga em reverência ao indefinido. O gênio do desarrimo.
| Carla Dias |
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