“A inteligência pobre que se quer fazer tem de se curvar aos ricos e cifrar sua atividade mental em produções incolores, sem significação, sem sinceridade, para não ofender seus protetores. A brutalidade do dinheiro asfixia e embrutece as inteligências”.
Lima Barreto, em “Os bruzundangas”, editora Martin Claret
A 15ª edição da Flip – que esse ano acontece de 26 a 30 de Julho, em Paraty – pretende resgatar o percurso do escritor Lima Barreto, um homem que estabeleceu-se como escritor no Rio de Janeiro, capital da Primeira República e da cultura literária do país. Em um meio marcado pela divisão de classes e pela influência das belas letras europeias, era difícil para um autor brasileiro com as suas origens afirmar seu valor.
Foram necessárias várias gerações para que se consolidasse o nome do criador de uma das obras mais plurais e inovadoras da literatura brasileira, que permite tanto o apreço do leitor quanto reflexões nos campos da literatura, da história e das ciências sociais.
Lima Barreto
Afonso Henriques de Lima Barreto nasce no Rio de Janeiro em 13 de maio de 1881. Perde a mãe, Amália Augusta, escrava liberta e professora, quando tinha seis anos, ficando sob os cuidados do pai, o tipógrafo João Henrique, que, poucos anos depois, é diagnosticado como neurastênico, o que o levaria a ficar recolhido pelo resto da vida. A doença do pai o obriga a deixar a Politécnica para sustentar a família como Amanuense do Ministério da Guerra.
Inicia sua colaboração regular para a imprensa em 1905, no Correio da Manhã. O jornal, extinto em 1974, serviu de inspiração para a criação de Recordações do Escrivão Isaías Caminha, publicado em 1909. Pelas críticas à imprensa no livro, Lima Barreto é retirado do quadro de colaboradores do Correio da Manhã e tem proibida qualquer citação ao seu nome nas páginas do diário, mesmo trinta anos depois de sua morte. Passa a colaborar, sob pseudônimo, para revistas como a Fon-Fon e Revista da Época, fazendo uma crítica social e política do Rio de Janeiro e o Brasil.
Em 1911, escreve e publica Triste fim de Policarpo Quaresma em folhetim do Jornal do Comércio – que seria editado em livro quatro anos depois.
Lima, devido ao alcoolismo, é internado pela primeira vez no hospício em agosto de 1914, repetindo a tragédia pessoal de seu pai. A primeira internação serve, contudo, de inspiração para sua obra a posteriori, Vida e morte de M. J. Gonzaga de Sá, livro que dialoga com o gênero biográfico, publicado em 1919. No dia 25 de dezembro deste ano, o autor é internado pela segunda vez.
Lima Barreto morre, aos 41 anos, em 1º de novembro de 1922, Dia de Todos os Santos. No dia 3 de novembro, morre seu pai.
Clara dos Anjos, que foi escrito e reescrito durante quase toda a vida de Lima, é publicado em livro no mesmo ano de sua morte.
A obra de Lima Barreto passa por um resgate e uma refundação a partir da biografia publicada por Francisco de Assis Barbosa, A vida de Lima Barreto, e da recuperação de seus escritos, feita a partir do acervo pessoal catalogado pelo próprio autor.
O autor torna-se objeto de estudo de intelectuais de referência em diversas áreas da inteligência brasileira, como Antonio Candido, Nicolau Sevcenko, Osman Lins, Alfredo Bosi, Antonio Arnoni Prado, Beatriz Resende e Lilia Schwarcz.
“Por muito tempo Lima Barreto ficou na ‘aba’ de literatura social, e sua obra e trajetória possibilitaram muitos debates sobre a sociedade brasileira. O que eu gostaria, mesmo, é que a Flip contribuísse para revelar o grande autor que ele é. Para além das questões importantíssimas sobre o país que ajuda a levantar, tem uma expressão literária inventiva e interessante, à frente de sua época em termos formais, capaz de inspirar toda uma linhagem da literatura em língua portuguesa”, afirma Joselia Aguiar, curadora da Flip 2017.
“O Lima é o autor de um território. O universo literário dele é determinado pela criação da Avenida Central, do Rio de Janeiro, que estabelece os diferentes graus de distância dos subúrbios com a Zona Sul e o Centro da Cidade”, afirma Mauro Munhoz, diretor-geral da Flip. “O olhar do Lima sobre a variedade de personagens brasileiros – seja nos subúrbios, seja nas regiões centrais – é determinado pela experiência do território onde viveu por quase toda a vida. Desse modo, sendo um grande autor, ele fez valer a máxima ‘Se queres ser universal, começa por pintar a tua aldeia’, do Tolstói.”
Parte da obra de Lima Barreto já está em domínio público, disponível para download gratuito. Veja abaixo links da Fundação Universia onde você pode baixar:
5. » O Homem que Sabia Javanês e Outros Contos
6.» O Subterrâneo do Morro do Castelo
Fontes: Flip e Fundação Universia
- O AMOR ACABA - 15/12/2023
- MAURA LOPES CANÇADO – O QUADRADO DE JOANA - 23/04/2023
- O MANIFESTO: “DOMINGO A GENTE FAZ UM PAÍS.” - 22/10/2022