Olhou-se no espelho e se viu nua, quase transparente, os peitos flácidos, a pele começando a murchar. O verão acabava de fechar as portas e ela sentia-se como uma folha seca, numa manhã fria e cinza de outono. Ela era essa folha de entranhas amareladas, pele ocre e borde alaranjado, que estava jogada no jardim. Essa folha cujas nervuras já começavam a secar. Como ela, sentia-se estéril, imprópria para viver num mundo primaveril. Ela identificava-se mais com o inverno, com os flocos de gelo na grama, com os livros sobre a lareira, com os jogos de habilidade mental. Parecera que a vida e ela caminhassem descompassadas. Lá fora, a neve ainda decorava o cume da montanha, como um colar cujas pérolas iam-se derretendo ladeira abaixo, e abrindo um rastro verdejante e florido. Chega de queixas, disse a si mesma. Basta da mente que mente. Somos semente! Adormeceu num berço gelado, recolheu-se, letargiou-se. Renasceu em seus filhos… na primavera.
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