Tem nada a dizer. Ainda assim, diz. Há quem a chame de defensora da prolixidade, mas há também quem se encante com suas palavras desperdiçadas. É uma desperdiçadora de palavras que não se sente acuada diante do oposto. Porque também há dias em que tem tanto a dizer, mas engasga. E apesar da dificuldade em se expressar devidamente, jamais renuncia à sua vez. Grita se for preciso. E se preciso for, grita ainda mais alto. Nasceram assim algumas declarações declamadas no amparo do silêncio. Que a perdoem os que não se sentiram reverenciados, mas desgostar também faz parte do seu repertório, o que pode ser, às vezes, confundido com afeto. Quando tem nada a dizer, melindra. Alguns até lamentam quando volta à fluência dos seus pensamentos bagunçados, como se tivesse se embebedado com o desdito. E outros, observam-na com seus olhares derramando palavras circenses, destinadas aos malabarismos de fazer os outros se curvarem ao vazio que sustentam.
| Carla Dias |
Silence © Henry Fuseli |
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