Sente-se como se o universo o tivesse privado de desfecho. Acredita que sem fim não há começo, tampouco meio que faça sentido. Buscou conclusão nos conselhos dos santos, daí descambou para a leitura do tarô, endoideceu. Anda dando mais crédito à vidência das moças do Hotel Dolores, onde gosta de fechar a noite. Elas insistem que ele terá uma longa e proveitosa vida, contanto que deixe, sobre o criado-mudo, antes da dança, a paga da noite. Nunca menos do que o combinado. Mais é definitivamente permitido, que sobrenaturais ou humanos, todos adoram um extra. Ele decora palavras novas para sussurrar nos ouvidos das moças, explicando os sentimentos que fazem com que elas mereçam o significado que carregam. As moças suspiram. Falseado. Declamam o que pode e o que não pode. Então, que ele volta para casa, sozinho. Depois de uma boa noite de sono, tudo volta ao lugar. Tudo recomeça, apesar das palavras novas arrancando gargalhadas mesmas. Tudo se encolhe na sua insignificância. Inclusive ele.
| Carla Dias |
© Juja Kehl |
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