Pergunta-se: amor ou erro de cálculo das emoções? Pergunta-se em silêncio, no anonimato dos pensamentos, querendo desvendar se é ódio ou um imenso desinteresse em sentir indiferença. Crê que o amar é de um amargor disfarçado de levezas, e que a doçura do amor, nós sentimos somente no final, na última lambida, nos cafundós da biografia desse sentimento. Acredita que se permitir enfeitiçar pelo prazer e pela felicidade de um amor é doar-se à autoflagelação. E ele nunca foi de doer em nome de outra pessoa. Por isso lhe aterroriza, com direito à taquicardia, seus pelos eriçarem enquanto plana o olhar sobre ela, sem que a moça se dê conta da existência dele. Por que o desejo vigente é de cravar os dedos nos cabelos da moça, a fim de trançar esperança de beijo primeiro? Por isso engole um calmante com um generoso gole de cerveja, forçando rejeição que não vinga, enquanto tenta se aprumar. E a moça passa. O efeito do calmante, também.
| Carla Dias |
“Carnaval d’Arlequin” © Joan Miró |
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