Perdeu as palavras em alguma esquina. As letras foram caindo sem que percebesse, e quando deu por si já tinha ficado muda. Sentiu medo do silencio quando viu seu grito de socorro transformar-se em estrelas. Porém, quando intuiu o céu no reverso dos seus olhos, vagou por ruas sem nome, invisíveis a olhares alheios. Ia enchida de si, a ponto de implodir, febril. Sua sombra multiplicava os reflexos da madrugada. Seus passos, refletidos nas pequenas poças de água, salpicavam dissabores e nostalgia. Ela e o universo, abraçados. O universo e ela unidos. Unidos na solidão escura e sem voz que se entranha na essência da semente compartida, inunda-a e, por fim, explode. Ela e o universo, num único corpo, que dança longe do pesadelo que a aprisiona. Fora, no outro hemisfério da vida, uma voz onipotente e todo-poderosa: o estado de coma é irreversível, vamos a desligar os aparelhos. Mas no universo que a habita, o silencio é música que se desfaz em luz, e ela… ela é um cometa.
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