Espera que não a culpem por dançar pela sala, descalça, nua, descabelada. Pouco se importa se a culparem por dançar pela casa, salaz, entoando cantos nem sempre de amor. Há no seu endoidecimento uma genialidade transitória, mas que enquanto a possui – permitindo-lhe também desempenhar o papel de possuidora, vez em quando -, retarda o efeito das horas desperdiçadas em pensamentos vãos. Não há mais espaço nela para banalidades, para cárceres cultivados pelo preceito alheio. Suas urgências são criaturas deseducadas em nome da espontaneidade da felicidade em flor, em fogo, em furacão. Seu corpo vibra em celebração aos devaneios descarados, eles que ela trata com a ternura oriunda da deselegância da verdade que a vida, não docilmente, sopra-lhe na boca. A vida que a faz engolir, sem direito ao engasgo, um desfecho em nome do desapego. Liberta-se, então, do pudor de ser o ser que lhe cabe, dançando pelo mundo, descompromissada com imposta identidade.
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