Ela ouvira aquela frase numa novela e se pôs em cólicas. Como assim “dinheiro pinta”? Dinheiro se constrói, a gente cava, semeia por ele. Lida pesada e diária. Muito esforço. Ainda assim, dá com burros n’água. E o burro empaca. Demorou um tempo pra ela entender que o burro só quer se hidratar. Ele gosta do pasto que está ali, quer descansar da vida inteira. Antes, ela deixava seus burros amarrados com cargas que ela não tinha como levar sozinha e ia ruminando sua desistência. Logo ela que não gostava de se dar por vencida. Lamentava ter criado o burro, tê-lo alimentado até aquela idade para perdê-lo. Toda a carga em prejuízo. Insistir era inútil, só mais ranger de dentes. Contudo, sabe agora que num domingo de mormaço, ela pode estar numa sesta na rede e aparecer um burro pródigo no seu terreiro. Ele vem saudável, forte, lustroso, afável, cangalha farta, sem que naquele dado momento ela tenha feito nada para que isso acontecesse. Quem olha de fora diz que dinheiro pinta. | Carla Cintia Conteiro |
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