O que mais lhe inquieta é a curiosidade. Como será que as pessoas, as acostumadas a sua presença, lidarão com a sua absoluta ausência? Não é um questionamento autoral, acredita que todos nós esbarramos nele, eventualmente. Mas quando acontece, o peso é sim do ineditismo. É uma curiosidade existencial, que toma conta de todos os momentos de uma pessoa que esteja com a vida tão próxima de um ponto final. E já acertou tudo, não há pendências, ao menos não das burocráticas. Cada um de seus filhos receberá o que lhes cabe, assim como a esposa, companheira de uma vida, de alegrias e brigas sempre seguidas por sinceras reconciliações. A única coisa que lhe restou – que já se despediu internamente dos seus afetos -, é essa robusta curiosidade. É com ela que ele se levanta e com a qual vai se deitar. É ela que lhe toma os pensamentos, enquanto as pessoas a sua volta tentam reconfortá-lo. A sua vida foi longa e próspera, mas como será a sua ausência?
| Carla Dias |
© Juja Kehl |
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