Fecha os olhos. Abre os olhos, espia. Fecha os olhos. Seus joelhos doem. As mãos não aceitam a posição, rebeladas que são e adeptas do ritual de se jogarem ao vento. Mãos que bancam bailarinas. Seus ouvidos, distraídos da essência de tal momento, colocam para tocar a canção preferida. Na repetição. Em outro idioma. Ela sonha em mudar de mundo. Abre os olhos. Desdobra os joelhos. Senta-se no banco de madeira. O olhar desgovernado quer sair do recinto para ver o mundo, mas só faz é bater em paredes. Sente a prisão lhe afagar os sentidos. Uma prisão de sorrisos e benevolência frágeis, de absoluta certeza sobre o absoluto mistério. Acompanha os outros até a saída. Esbarra em um cenário de dia de sol que ilumina as árvores como se lhe vestissem de vida. Sorri. Respira fundo. Pensa, sentindo-se ousada em seu mistério próprio, que se Deus está em todas as partes, ela definitivamente prefere encontrá-lo no jardim, em um passeio sem pressa, sem peso, para conversa franca. A isso ela diz amém.
| Carla Dias |
Ophelia © John William Waterhouse |
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