Tranca a porta, deixando o mundo do lado de fora. Seu desejo é claro, ainda que dissonante: estar só no momento da partida. A predileção pelo “vou indo, antes que queiram que eu parta” ele aplicou a todos os aspectos de sua vida. Por isso mesmo as pessoas o acham apropriadamente interessante e inefavelmente sábio. É que não é de dar espaço para que decidam por ele sobre suas chegadas e suas partidas. Consegue perceber, sem esforço, por quanto tempo, por que e onde é bem-vindo. Não impõe sua presença. Não há mistério nele, apenas lonjuras emocionais. Agora, quando se serve de uma dose tripla de uísque – batizado com seu tíquete de saída -, sentado de frente para o mundo de janela escancarada, quando seu coração acelera no ritmo de desfecho de biografia, ah, que ele não deixaria por menos. Fecha os olhos e parte por escolha, que não é homem de deixar para os outros, nem mesmo para o destino, a função de assinar a carta de derradeira despedida.
| Carla Dias |
Metamorphosis of Narcissus © Salvador Dalí |
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