Esbarra não somente na mulher que caminha a sua frente, nessa fila indiana de pés sendo arrastados e pensamentos carentes de conhecimento. Também esbarra naquele momento em que o coração dispara, o corpo treme, engasga-se em um respirar profundamente. O momento em que a invenção de alguém se torna a realidade de tantos outros. E não há como deixar de pensar se o inventor realmente se sente satisfeito com a sua cria, com a forma como fizeram com que ela coubesse mundo. Tropeça na pedra, no tempo, no desespero, no outro, nas lembranças, em um silêncio algoz. Aonde o levará essa fila de pessoas apreciando a nuca das outras, como se a troca de olhares fosse pecado mortal? Imagina como deve se sentir o inventor de uma esperança ao vê-la sendo utilizada como arma, catalisadora do poder que serve somente ao seu dono e seus desejos deléveis. Pensa que, se ele tiver a consciência atinada, deve estar lamentando ter parido o fim ao imaginar um começo.
| Carla Dias |
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