Inventou no de repente uma canção de amor trançada à chuva, ao cobertor, ao frio e aos pensamentos indecorosos, às ruas vazias da cidade e ao uísque, que não é de ferro, mas certamente é um ébrio de plantão. A cada cena, um verso, sendo que para o refrão reservou as palavras mais obscenas, assim todos as repetirão, abençoando o atrevimento do compositor. A língua ainda é o seu objeto de desejo preferido, que além de ser capaz de inspirar gemidos dissonantes – obviamente, dependendo do talento de seu regente em trafegar pelos lugares certos -, é talentosa despejadora de palavras de amor nesse mundo nem sempre digno de afeto. A canção inventada no de repente é uma singela – e lasciva – oferenda àquela que ainda não se esparramou no universo – nem no corpo – do moço. É canção de amor pré-datada, que há de se espalhar pelo mundo, até chegar aos ouvidos dela, arrepiando-lhe os pelos, entregando-lhe o mapa para encontrá-lo, e assim ela matar a saudade antecipada que ele rumina, em silêncio.
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