Fechou os olhos e concentrou-se em toda a sua raiva e fúria. Aquilo que era para ser sentido passou a fazer sentido em palavras. Uma a uma elas justificaram a dor que, resignada, escondeu-se nas gavetas do tempo. Aprendeu a caminhar pela estrada da vida, engolfada por suas gavetas, protegida por suas chaves. Mas o mesmo tempo, benfeitor e impostor, não passava. Seu relógio marcava sempre as mesmas horas, os mesmos dias, o mesmo tic-tac repetitivo na tentativa de dar novo significado aos mesmos velhos atos. Um dia aconteceu de sua dor doer tanto e ser tão grande que suas gavetas abarrotadas não a puderam suportar e ela, sem alternativa, foi expelida em um grito, seguido de um choro e de tantos outros jorros. Quando acordou, percebeu-se viva apesar do trauma de ser. De ser ela mesma sem justificativas, nem palavras. E ela, que sempre fora possibilidade, tornou-se uma mulher.
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