As férias são na casa na praia, com os pais e os dois irmãos. Mesmo sem direito à escolha, que é criança, sabe? Ainda assim, ela sempre folheia a brochura da agência de viagens, que fica na esquina de sua casa na cidade, com o mesmo prazer que algumas senhoras do lar folheiam as revistas de quinquilharias que prometem facilitar a vida doméstica. Exposta ao sol, pés revolvendo areia, óculos escuros da mãe, ela escuta a bagunça dos meninos, a diversão que é para eles aporrinhar um ao outro. E as gargalhadas miúdas dos pais, que até hoje são dados à namoração. Os sons se calam quando ela, na companhia dos seus devaneios, viaja até o lugar que escolheu como destino. Não das férias, mas da vida. Nada contra o sol, mas sua alma pede pela melancolia das chuvas, vez em quase sempre. Fecha os olhos para acessar aquela fotografia da brochura da agência de viagens. Seus pais nem imaginam, mas quando tiver idade, vai se mudar para lá, de preferência, para um castelo cercado por água e silêncio.
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