Ela não tinha filhos. O sucesso profissional e a intensa fome de viver a levaram a posterga-los. O tempo voou e, aos altos cargos seguiu a aposentadoria. Ainda sem chegar a se arrepender, às vezes sentia saudades dos choros noturnos que não chegou a ninar; dos atropelados primeiros passos que jamais pôde presenciar; das inexistentes mãozinhas miúdas e trêmulas à procura da sua proteção, ou do aconchego no colo maternal que nunca chegou a oferecer. Viajava sozinha a prazer, como antes o fizera sozinha a negócios. Conhecia mais de três centenas de aeroportos. “You have a beautiful body”, disse o jovem moreno, de aspecto mediterrâneo, que estava sentado na poltrona ao lado. Girou a cabeça para olha-lo e agradeceu com um ligeiro sorriso. Poderia ser seu filho ou, quem sabe, seu neto. Olhou-o de novo e, por alguns segundos, chegou a cogitar a possibilidade de adotá-lo.
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