Ouviu o som dum despertador. Ela passeava descalça pelas margens de um sonho recorrente. Soube que aquele despertador era o dela; que aquela musiquinha ranheta era para ela. Mas não sabia se desejava acordar. Para quê, perguntava-se: para sofrer um dia mais; para caminhar sem sentido até a cozinha; para preparar um café forte, quente e solitário; para contemplar o vazio das janelas; para maldizer esse pó que insiste em vestir de cinza um gramado que já foi verde; para… Ouviu o estalo dos ossos e percebeu que seu corpo tentava levantar-se. Sabia que a cada dia desaprendia algo novo. Sabia que se manteria viva enquanto tivesse alguma coisa para desaprender. Hoje desaprenderei como se faz o chá, decidiu. Então lembrou que também deveria esquecer todos os seus sonhos, e continuou dormindo.
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