Tinha medo. Fechou os olhos porque tinha medo. Mas, ainda que se perdesse na escura segurança dos olhos fechados, o medo permanecia latente no ar. Seu medo era tão intenso que acendeu estrelas e cintilou vaga-lumes, palpitou silêncios e exalou suspiros, inundou rios e desembocou mares. Seu medo era tão espesso que, após derramar-se sobre campos e telhados, encharcou o limiar da sua porteira e se fez tangível. O medo chegava junto com o entardecer e, voraz, observava todos seus movimentos desde o outro lado da janela. Nua sob os sujos lençóis do leito, abraçada ao travesseiro, desamparada e só, sentia os ossos calcinados por aquele olhar verde, gelado e sem rosto, que pacientemente, dia após dia, esperava. Num impulso, saiu da cama e, no instante em que seu pé tocou no chão, a noite invadiu a casa, os cachorros uivaram, a lua pestanejou… e ela abriu a porta.
MEDO
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