Nasceu em dia de tragédia, daquela de fazer todos permanecerem de olhos grudados na televisão por horas. Não foi com conhecidos. Ainda assim, a compaixão era de quem perdera um familiar, um amigo. Anos depois, quando já entendia melhor das coisas da vida, explicaram a ele que o acontecido foi tão grave que não havia como festejar o que fosse nesse dia, por isso deslocaram o aniversário dele para um dia depois. Comemorou o um ano, um ano e um dia depois de nascido, e assim por diante. No dia do seu vigésimo quinto aniversário, alugou um quarto em um hotel barato, levou guloseimas e drinques, fez festa sozinho. Sentiu-se inteiro ao celebrar nascimento no dia em que nasceu. Ao sair do quarto, feliz como alguém a reaver a si, depois de ter sido privado de identidade, a consciência lhe entortou o espírito. Sentiu-se desrespeitador de tragédia. Pagou penitência e jurou nunca mais cometer tal ato. No ano seguinte, vinte e seis anos e um dia, alugou um quarto em um hotel barato…
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