Todas as vezes em que digo que acho Dilma honesta, sou interpelado ao vivo ou virtualmente sobre isso. Apontam-me mil erros dela, e perguntam como posso considerar honesta uma pessoa que fez A, B e C. Tem gente que até se zanga, como se fosse evidente que Dilma é um Ser do Mal.
Eu entendo as interpelações, até porque fazem sentido num contexto lato. Quando eu falo em “honestidade”, me refiro especificamente a “não roubar” num sentido estrito. E’ uma honestidade com significado muito específico.
As pessoas me lembram que ela mentiu pra se eleger. Disse que não faria coisas que deveras fez. Estão certas ao dizer que ela apresentou um discurso e depois fez outras coisas. O que eu não tenho certeza é se ela fez isso intencionalmente. Mas tenho certeza de que ela nunca pediu desculpas…
As pessoas me lembram que ela se valeu de um discurso apocalíptico a fim de combater Marina. É verdade, ela fez isso. Militantes petistas fizeram ainda pior. O que eu não tenho certeza é se ela fez isso de caso pensado ou se ela realmente acredita nos discursos que fez (e faz).
Ocorre que, mesmo que nada disso tenha sido intencional, na política o que conta é o que parece. E a aparência de fato é de alguém que fez tudo de caso pensado. Até porque, o mínimo seria pedir desculpas à nação pela contradição entre ato e fala. Como nunca rolou esta ponderação, este “errei”, fica mesmo parecendo que foram atos diabólicos – mesmo que não tenham sido.
Meus amigos lembram também do desvio de finalidade, ao convidar Lula para ser ministro com o fito de protegê-lo contra Moro.
Ora, se me acompanham sabem bem que eu escrevi longo texto sobre isso, dizendo que seria um erro. Há muita gente que respeito muito que defende o ato. Discordo delas. Argumentam que Dilma já havia convidado Lula duas vezes para ser ministro, no passado recente, e que ele negou. Quem está por dentro da situação sabe que ela queria mesmo Lula por perto para ajudá-la. Isso é verdade. Mas repito: o que importa na política é o que parece. E o convite mais recente não parecia ter intenção nada boa. Tanto que alguns amigos governistas de quem gosto muito usaram um argumento que eu acho horroroso: “guerra e’ guerra”. Ora, quando me dizem isso, praticamente assume o vale-tudo e ratificam a aparência do desvio de finalidade.
Ocorre que o atual processo contra Dilma, ao que me conste, não a julga por nada disso. Não a julga por mentir nas eleições, não a julga por massacrar Marina, não a julga por supostamente ter agido com intenção de desvio de finalidade. Se muito não me engano, a julga especificamente pelas pedaladas fiscais. E eu tenho sérias dúvidas sobre a razoabilidade de um impeachment por este motivo. Notem: a palavra é DÚVIDA.
Traduzindo em miúdos: se eu fosse um deputado, estaria no rol dos indecisos. E, por uma questão de princípios, se eu estou em dúvida eu beneficio o réu.
A despeito da honestidade estrita que lhe atribuo, este atributo não é suficiente para que a considere uma boa gestora. E não votei nela nas últimas eleições, votei no Eduardo Jorge e no segundo turno nem votei, estava no hospital. Provavelmente teria votado nela, com algum desgosto, só pra não ter Aecio presidente. Quem tiver boa memória, lembrará de um texto que escrevi quando ela venceu as últimas eleições. Eu dizia que essa vitória não era exatamente vitória, e que seria dificílimo governar.
Mesmo assim, trabalhei em um ministério do governo dela, onde só conheci gente boa, honesta e esforçada, que queria fazer a coisa certa. Alguns, como eu, nem votaram nela. Nem precisar do emprego eu precisava, mas fui com gosto, convidado por um amigo, para tentar fazer minha parte. Como não somos mesquinhos, trabalhamos pelo bem do país. Mesmo que ela não seja impedida hoje, não se enganem: a maioria é mesquinha e não descansará enquanto o país não afundar em prol de uma profecia autorrealizada.
Seja qual for o resultado, hoje é um dia triste de nossa história. Não há o que comemorar, seja qual for o resultado.
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