Antes mesmo de compreender aonde a vida queria levá-lo, já existia o desejo de ser quem é, assim, de profissão e ebulição interna. É que, menino que só, teve de enterrar os pais, depois de um acidente. Mas não é preciso se melindrar com isso, que o menino que ele foi sucumbiu à dor da perda para, eventualmente, aprender a conviver com ela. Hoje, ele tem até fã-clube, o que, particularmente, ele acha meio desrespeitoso. Onde já se viu mulherada gritando seu nome e lhe propondo casamento durante o funeral alheio? Só que temos de aceitar que os pais dele o fizeram homem bonito, de charme fundamentado no mistério, voz rouca e profunda. E tem o bom gosto musical. Não é à toa que sua agenda vive lotada. Por isso e porque as pessoas têm de morrer, claro. Coloca-se elegantemente aos pés do morto, entoando nome e sobrenome dele, como se recitasse haicai. Então, começa a cantar a música preferida do tal, enquanto a esposa do coitado só pensa em não desperdiçar a oportunidade de pedir um autógrafo ao famoso cantor de funeral.
| Carla Dias |
Young Man on a Riverbank © Umberto Boccioni |
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