Aos Domingos, ela visita a avó. Leva na velha cesta de vime o chocolate amargo, maçãs e morangos, damascos e ameixas secas, uvas passas brancas, as preferidas para os strudels. Embrulha a torta e os pães na toalha quadriculada vermelha, ajeita a jarra de suco e os apetrechos do picnic, pega o xale de tricô, as flores e a “Felicidade Clandestina” de Clarice. Aos Domingos, um tanto de memória a revisita e a infância desce ao seu encontro fazendo carícias a roubar sorrisos da criança interior que ainda a habita. Quando chega, estende a toalha sobre o gramado, arruma quitutes, flores e frutas, e espera. Logo a avó chega: quase sempre não a beija, mas ela a beija delicada; ajuda-a a sentar-se e a observa admirar os suculentos morangos. Deita-lhe o xale nos ombros e serve um pedaço da torta – que ela come só um pedacinho. Ficam em silêncio, sol e vento ao redor, até que começa a ler. E quando a ouve cantarolar baixinho a canção de ninar, tem certeza de que avó sabe quem ela é.
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