REFLEXÃ0

A VELHA LARANJA PODRE

psicologia-da-mentiraPapai sempre dizia. Eu, ainda menina, não compreendia a totalidade do ditado: “Uma laranja podre na cesta apodrece as boas”. Achava que, ao longo da vida, os pais, velhos para nós quando somos tão jovens, endureciam-se pelas mágoas acumuladas, e assim, carregavam com eles ranços, preconceitos que limitavam novas experiências. Ele, sempre alerta e tolerante, não cansava de repetir o ditado nas vezes que sentiu necessidade.

Confesso que, aos quinze anos, trazia-me um pouco de prazer contestar suas sábias palavras, mesmo que  as entendesse, simplesmente por rebeldia. Algumas experiências que tive com laranjas podres foram-me desastrosas, mas outras enriquecedoras.

Estar em contato com laranjas podres, torna-nos mais fortes, intuitivos, atentos e preparados para, aos quarenta anos, enfrentarmos a verdadeira podridão – não de uma laranja apenas, mas de um caminhão inteiro.

Na adolescência, negar um baseado pode ser um ato de bravura ou um sacrilégio. Sem fazer apologia a qualquer droga, um baseado, aos dezessete anos, não causa danos sérios como àqueles que viveremos quando, se por acaso, nos corrompermos por poder ou dinheiro.

Ah! Quanto mais velha eu fico, piores são as laranjas!  – disso tenho certeza. Aliás, as raposas velhas da política estão aí para comprovar que a maturidade pode estragar ainda mais um ser humano.

Quando somos jovens, de esquerda ou direita – se é que ainda podemos usar tais termos -, seguimos com atitudes mais próximas aos nossos ideias, mais convincentes – até por sermos mais puros de alma. Jamais imaginamos, quando jovens, que nós, um amigo próximo ou um parente, poderá ser exatamente a pior das laranjas – aquela que contamina a sociedade, rouba dos necessitados, que vê na miséria algo bom, se a ele for lucrativo.

laranja_podreInfelizmente, quanto mais velhos ficamos, mais laranjas podres teremos nas nossas cestas, porém, com intuição, segurança e, sobretudo, caráter, podemos nos esquivar delas, ou mesmo, eliminá-las, jogando-as na lata de lixo.

A lista é extensa – você encontra uma laranja podre em qualquer lugar: na fila de uma banco, aquele espertinho que quer passar à frente de todos; um amigo interesseiro, um parente querido, político, mas que rouba a população e no Dia das Crianças leva brinquedos para as crianças carentes da favela próxima à sua mansão; enfim… são tantos exemplos que enumerar me dá cansaço. Manipuladores, demagogos, caloteiros, violentos, psicopatas, Bonsonaros, Eduardos Cunhas...

E, se você ainda achar que a pior laranja podre que seu filho irá encontrar, será o amigo que fuma um baseado, é melhor que você o deixe acreditar em Papai Noel…

Ah, que saudades eu sinto da ingenuidade daquela minha amiga que me ofereceu o primeiro baseado!


Deborah Brum
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Deborah Brum

Deborah Brum

Artista Plástica com pós graduação em Arte Integrativa, atuou na área de Arte Educação Bienal. Atualmente, dedica-se a duas grandes paixões: filhos e literatura. Ministra oficinas infantis e juvenis e dá aulas de redação para vestibular. Escreveu também para a publicação digital/regional "Jornal D'Aqui", na Granja Viana.