Eram amigos, a menina e o sacerdote. Sempre que passava pela porta da igreja o religioso convidava-a a entrar e deixava que zanzasse por ali, brincando com os objetos sagrados da sacristia ou acendendo velas no ofertório. Às vezes, enquanto conversavam, ela o ajudava a limpar a parafina derretida das súplicas chamuscadas que os fiéis lançavam aos santos intercessores. O padre lhe dava medalhinhas com imagens e contava-lhe histórias da vida daquelas figuras, que, por terem sido pessoas comuns, a encantavam com a extravagância de seus feitos extraordinários. Ali ocorria o contrário do que se passava no colégio com as lorotas tediosas das crianças missionárias, sempre prontas a lançar mais uma alma desavisada em seus currículos de cristãos chatos. Os santos do padre tinham relevo. E graça!
| Maitê Proença | “Uma vida inventada”
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