Chega para a sessão única avisando que está ali só por causa do marido, que se suicidou há três meses e era o paciente, mas não quer falar dele. Diz que veio por insistência dos sogros, pais e amigos, que dizem que ela não sofreu o bastante. Qual a medida da dor? Conta que não parou de trabalhar nenhum dia – é advogada e agora tem as gêmeas pra criar sozinha! -, e que a rotina consiste em acordar, tomar banho, chamar as meninas, tomar café, deixá-las na escola e rumar para o escritório. Às cinco da tarde as pega de volta, jantam, leem, estudam, veem TV, brincam no micro, distraem-se. Não falam do pai. Duas vezes por semana dá aulas na Faculdade. Foi nomeada Síndica, o que também lhe toma tempo. Nos fins de semana visitam os avós, vão ao cinema, passeiam. Afinal, não está enfrentando tudo muito bem? O terapeuta lhe devolve a pergunta. Ela o olha com um misto de raiva e redenção. E antes de bater a porta atrás de si, por cima do ombro informa que virá na próxima sexta, no mesmo horário.
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