Pra dizer a verdade, entendo pouco de política. Aos 18 anos trabalhei como assessora de um político em Campinas, durante as eleições, e vi que sobrava falcatrua pra todo lado. O salário era bom, mas depois que “meu” candidato foi eleito, preferi cair fora – acho que eu era muito jovem pra correr o risco de me corromper. Já naquela época eu sabia que isso era possível. Sim, a gente pode se corromper, que ninguém duvide. Talvez por isso eu não levante bandeiras radicais e não me surpreenda com a corrupção. A gente vê tanto dela no dia a dia… É muito tênue a linha que separa a virtude da trapaça.
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Viviane Mosé em seu programa de rádio (CBN) se saiu com essa: “A voz das ruas não é a voz das urnas.” E acrescentou: “Milhões nas ruas mostra que a oposição é forte, mas não representa toda a população brasileira.” Eu pensei a mesma coisa quando saíram os números das manifestações: foram três milhões de pessoas. E os outros 97 milhões que votaram?
Alguns talvez sejam pessoas como eu, também insatisfeitas, conscientes da desorientação do Governo, da corrupção, que querem um Pais melhor e mais justo, mas fazem “campanha do sofá” – ou nem isso. Gente que entende que a Operação Lava-jato é necessária ao Brasil, mas que não há nenhuma novidade no que ela apresenta. Gente que sabe que não se pode abrir mão da lei em nenhuma circunstância. Gente que acha que o juiz Sergio Moro não faz nada além da sua obrigação – como juiz que é e pago com dinheiro público. E gente que sabe que ele não está fazendo tudo de graça: tem seus interesses, inclusive políticos – e isso ficou claro como o sol na sua “nota” de domingo (quando será que ele vai lançar sua candidatura, é a pergunta que me faço). Certamente tem gente como eu que sabe que faltam argumentos legais para o impeachment da Presidente. E pior: que mudar a Presidente nesse momento será um risco ainda maior para o Pais – além de não mudar nem o panorama da corrupção (endêmica) nem a situação da economia – seria muita ingenuidade, aliás, pensar assim (especialmente quando se mira na sucessão).
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Mas é fato: vivemos um triste momento político, econômico e social. As relações interpessoais estão cada vez piores – eu mesma, que tento exercitar a tolerância ao máximo, estou no meu limite. Já não tenho paciência para os grupos de WhatsApp – de amigos ou familiares, que estão quase todos no modo silencioso – onde postam brincadeiras políticas – que sequer abrem margem para uma discussão sadia -, nem para opiniões baseadas no “JN” que transitam nos meus feeds (apesar de eu passar pelas redes sociais mais a trabalho) – e sei que muitos também não tem paciência comigo, ainda que eu me exponha pouco ao assunto. Assim, todo dia deixo de seguir alguém – gente que até simpatizo, mas que está a me enjoar. E, é claro, muitos deixam de falar comigo. A comunicação, portanto, está truncada – mas, como sempre digo, se você deixar de seguir algumas pessoas virtualmente, é possível que continue a gostar bem mais delas – e elas de você, acredite.
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O panorama à nossa frente é sombrio – e assim não para de ficar. Todo dia temos uma novidade política com cara de antiga. Percebo que o Governo não precisa de inimigos – seus próprios aliados cumprem bem esse papel. E sinto-me um pouco cansada do assunto, quase saudosa de Governos que jogavam tudo pra debaixo do tapete. Ao menos se tivéssemos certeza de que depois dessa “limpeza” a corrupção será varrida… Mas nem isso, bem sabemos. E torço para que esses que vão pras ruas, aparentemente engajados, saibam disso (só que quando vejo o “Morobloco” tenho dúvidas da seriedade das intenções).
São tempos realmente difíceis…
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