Foi quando procurava o passaporte do marido que ela se deu conta do tanto de vida que morava no sótão da casa. Em caixas de papelão e envelopes pardos, histórias e memórias se fundiam no tempo. Cartas de ex-namorados provavam que o amor é o sentimento sempre ‘eterno enquanto dura’. Velhos recortes de jornais, esboços de livros, poesias soltas, postais, cartões, uma infinidade de documentos e papéis sem valor – de contas de onde viveram há mais de cinco anos até garantia de coisas que nem existiam mais. Retratos dos avós, da infância, da formatura, muitas fotos antigas – pois novas, só digitais. E foi quando abriu os envelopes das crianças que o tempo parou. Bilhetinhos, desenhos, mãozinhas carimbadas, presentinhos feitos à mão, o primeiro dia de vida, o primeiro na escola – registros que a saudade não esqueceu, só mantém à deriva. Mas ela só chorou quando apertou contra o peito a certidão de nascimento da quarta filha – que viveu um mês, doze dias, sete horas e onze minutos…
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