Não fosse pela sirene lá fora teria dormido ali naquele lugar sujo. Talvez o barulho a tenha despertado de vez. O que estava fazendo ali? Certamente aquele homem tinha uma vida a sua espera. Ela não tinha nada. Ganhou a rua muito jovem, nem se lembra quando, e nunca mais conseguiu mudar seu destino. Hoje seria o dia? Calçou as botas longas ridículas. Como era patética! Pensou que seria artista, cantaria e dançaria por aí como as estrelas do cinema. Não era um caminho fácil. Descobriu logo que, apesar das belas pernas e da voz, não era exatamente por estes dotes que seria um sucesso. O que era, afinal, uma vida de glamour? Estava sozinha como sempre. Era o momento de admitir sua estupidez e voltar – ainda que fosse longe e feio, o lugar de onde veio certamente é mais limpo e quente do que as ruas. Voltaria para sua terra para descobrir o caminho certo. Desta vez, sem fantasias, lavou o rosto com cuidado, escovou os cabelos e deixou tudo o que podia ali. Saiu leve.
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