Naquela tarde mansa de outono, ela não soube precisar se foi o vento, o cheiro da chuva, o latido de um cão, se foi um grito distante, um avião riscando o céu. Talvez tenha sido a moça triste que cruzou seu olhar, a criança vendendo balas no semáforo, o dia nublado, os filhos atrasados pra escola, o trânsito vagaroso, a discussão com o marido no fim de semana. Não soube dizer se foi aquela árvore no meio da estrada, seca e sem esperança, ou a notícia da doença terminal da amiga de infância. Mas, definitivamente, foi quando estava a caminho do supermercado que rompeu-se a inquietação, deu-se uma explosão na memória, uma melancolia crescente, e ela se deu conta: sentia saudades do pai. E a enxurrada de lágrimas foi a única coisa que a salvou daquela dor…
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