HIPERBREVES

ESPERANÇA

Desde pequena ouvia falar de Santo Antonio, mas como cresceu moça de pouca fé, jamais arriscou um pedido. Também não lhe faltavam pretendentes, que era bonita, estudada e prendada, e, de fato, nunca pensou em incomodá-lo para se valer de seus benefícios casamenteiros. Só que naquele ano a solidão era tanta que, de repente, ela começou a sonhar com o frade simpático, cuja réplica descansava na cômoda do quarto da avó. Convidada para a festa em sua homenagem, pôs-se a pesquisar o franciscano de inteligência notável e morte precoce, e se encheu de encantos pelas lendas que o intitulavam um “Doutor” de rara bondade. Elevada por aquele espírito iluminado, tomou-se de estranha urgência e só descansou quando mil buquês de amor, retalhos e tules ficaram prontos. E naquele dia treze, ela e a avó distribuíram tanta esperança, que hoje, mais de vinte anos depois, sua memória ainda abarca todos os sorrisos e beijos que recebeu como paga.

 

Débora Böttcher
Últimos posts por Débora Böttcher (exibir todos)

Débora Böttcher

Débora Böttcher

Formada em Letras, com especialização em Literatura Infantil e Produção de Textos. Participou do livro de coletâneas "Acaba Não, Mundo", do site "Crônica do Dia", onde escreveu por 10 anos. Publicou artigos em vários jornais. Trabalha com arte visual/mídias. Administra esse portal - que é uma junção dos sites Babel Cultural, Dieta com Sabor, Hiperbreves, Papo de Letras e Falas Contadas.