Vinte anos sem ver ou saber da amiga, as imagens que lhe rondam as lembranças são as da Faculdade, quando as grandes preocupações eram a prova de Literatura, a corrida de Rallye nos fins de semana, férias na Riviera. Naquela manhã, recebeu um e-mail. Na tela leu que nunca a esquece: o pai morreu no dia do seu aniversário, há sete anos. Ela estremece ao sentir-se integrante de memória tão dolorosa. E ainda está lá: no ano passado o marido foi embora, casou-se de novo e teve um bebê há dois meses; a filha caçula tem problemas congênitos de visão; as aulas que dá de alemão não a sustentam e o dinheiro que recebe do marido só supre parte das despesas com as crianças; além disso, a herança que recebeu do pai está acabando. Fica sem saber o que escrever de volta e pensa nos planos que ambas desenharam para o futuro. E tem a sensação de que teria sido melhor continuar com a imagem congelada da juventude regada a alegria – que agora se fazia povoada de sonhos que não tinham sido possíveis.
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