O cemitério fica no meio da estrada, de frente à curva onde há alguns anos ela sofreu um acidente quase fatal. Passando os portões de ferro, os túmulos de pedra são antigos, alguns cobertos de azulejos, outros de mármore. Anjos, cruzes e vasos de bronze adornam, mas a maioria das flores são de plástico. Quem, afinal, lembra dos mortos? Ela caminha calma e lentamente pela alameda central. Pára diante da lápide branca onde estão grafados o nome e a data: ali descansa, há vinte e cinco anos, o primeiro amor. Num instante, a memória viaja num flash. Ela se debruça, mas não chora. Suas mãos estão geladas e o vento leve provoca um calafrio. Tanto tempo depois, ela mal se lembra dos contornos daquele rosto moreno, sempre com os cabelos desalinhados e um sorriso maroto. Ela também não consegue mais dimensionar seus sentimentos: a vida seguiu, ela se casou e até é feliz. Mas sempre tenta divisar, pelas brechas, tudo o que poderia ter sido – e ainda sente o perfume dele no ar…
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