Quando a atriz Betty Faria surgiu de biquíni numa praia, no verão passado, choveram críticas rudes, mas muito mais defensores de sua liberdade, alegando respeito ao direito de mostrar seu corpo – se assim tivesse vontade. Eu fui uma dessas pessoas.
Pois na semana passada, entrevistada para a revista de Joyce Pascowitch – você já deve ter visto por aí, mas se não, está aqui -, a senhora de 74 anos surpreendeu ao declarar: “Todo mundo tem o direito de falar o que quiser. Eu, por exemplo, não gosto de mulheres gordas. Elas me incomodam profundamente. Tenho repulsa, rejeição. Sempre batalhei para não ser uma velha gorda.” Pois é… Não ficou gorda, mas cheia de preconceito.
A gordofobia não é incomum. Há muita gente que simplesmente não suporta gordos – e isso também acontece com crianças. Rejeitam com nojo, asco, repulsa. A mim, causa enorme incompreensão que alguém possa ter sentimentos assim por outra pessoa simplesmente porque ela está fora do padrão (!?) de peso. O que me causa esses desagradáveis sintomas, é ouvir uma mulher falar assim publicamente, sem compaixão nenhuma e com tamanha intolerância.
Que ela nunca tenha aceitado ser uma mulher gorda e tenha se esforçado a vida inteira para não ultrapassar suas medidas, é até louvável – muita gente prefere passar a salada e água a estar acima do peso – e fico feliz que tenha conseguido se manter assim. Mas essa declaração planta a dúvida de que ela esteja com a mente no mesmo patamar de saudabilidade.
Atualmente, todo mundo tem direito a dizer o que quiser. Como já disse alguém – talvez o cientista/filósofo Leandro Karnal (mas não tenho certeza) – “a internet deu voz aos imbecis”. Nesse campo aberto onde se pensa que tudo pode, nunca se leu tanta bobagem. E é difícil contemplar com benevolência essa ‘terra de ninguém’ quando se lê declarações com tamanha audácia e desrespeito, que para nada contribuem.
É preciso deixar claro: gordura não é defeito moral, nem desvio de caráter – no máximo, problema de saúde e estética -, e mesmo que se saiba que existe, chega a ser inacreditável que a gordura alheia possa incomodar alguém. E é ainda mais surpreendente que uma pessoa pública, que já ocupou posição de destaque na TV, não pondere que declarações como essas podem servir de apoio para agressividades contra mulheres gordas – que já vivem esse dilema diariamente.
De minha parte, acho triste que ela entre para a categoria dos imbecis que se julgam com licença para dizer qualquer coisa, reivindicando seu direito à liberdade de expressão. Sim, é verdade que esse direito lhe será preservado, mas não consigo deixar de lamentar profundamente esse discurso brutal e sem escrúpulos contra o corpo feminino.
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