Saiu do banho sem pressa enquanto a repórter aguardava na sala de espera. Ao odor de enxofre somava-se o de especiarias. E o de hortelã, que exalava do chá. Vestiu um robe e enfrentou o espelho. Na penumbra, mal se lhe via o rosto. Cabelo preso, unhas bem tratadas, pele suave, respiração lenta. Acendeu uma vela pra deus, depois outra maior. Pousou a mão sobre a Divina Comédia e cerrou os olhos brevemente. Acalmou o fogo da lareira e saiu do quarto. Cumprimentou a jornalista, sugeriu que sentassem e lhe ofereceu o chá. Na sala semiescura, percebeu-lhe as curvas do corpo e a ansiedade na voz. Respondeu pausadamente cada pergunta, a voz rouca e firme, sem desviar o olhar. Ao final, exibiu um sorriso e estendeu a mão. A jovem retribuiu o gesto, sentiu um calor percorrer-lhe o corpo e a alma e desfaleceu. Acordou nua sobre a cama morna. Aos seus pés, a observá-la com o mesmo sorriso, cabelos agora soltos e o decote a revelar os seios fartos, o anjo caído vestia Prada.
| Fausto Rêgo |
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