Meu marido sempre cita uma frase básica, ouvida em algum filme romântico do qual não nos lembramos: “Se relacionamento fosse fácil, todo mundo teria um bom”.
De todas as coisas do mundo, as relações amorosas são as que compreendem mais contramãos. São caminhos tortuosos, atalhos errados, rumos perdidos.
Esse é o campo onde mais se erra e por mais estudos que se encontre sobre o assunto, por mais especialistas que se apresentem, por mais livros que se escrevam — e se leiam —, a conclusão me parece única: não tem receita, não existe cartilha, ninguém detém a fórmula mágica para fazer dar certo.
Vida a dois é um constante tatear no escuro: mesmo quando tudo vai bem, a gente ainda continua sem direção.
Não é difícil de explicar. A vida tem a faculdade de mudar num segundo: você dobra uma esquina e pode cair num abismo ou encontrar um novo horizonte. Isso pode significar o homem da sua vida beijando outra mulher ou um novo amor caindo de paraquedas no seu caminho.
Para desvendar o amor, astros, estrelas, destino: todas as ciências são invocadas na tentativa de baixar uma luz e clarear o maior mistério do mundo.
A realidade, no entanto, nos chama à razão: é preciso investir, todo dia reconquistar o parceiro, inventando — e reinventando — um jeito de não ser engolido pela rotina.
Não é simples: entre contas a pagar, filhos, ex-mulher (ou ex-marido), hábitos, manias individuais, concessões, teimosias e tudo o mais, como escreveu Mario Quintana, “Às vezes ocorre uma avalanche e não acontece nada; outras, senta uma mosca e desaba uma cidade…” É o que mais acontece entre duas pessoas: uma palavra fora de contexto e está feito um drama; um gesto equivocado, não intencional, e algo desanda, feito trem desgovernado trilho abaixo.
Os que entendem bem das questões amorosas, sempre alertam sobre a ‘gota d’água’ — aquilo que aparentemente não é nada, mas destrava uma alavanca invisível e desencadeia num processo de crise — que já estava infiltrado, quase sempre sem as partes perceberem. Ruptura — muitas vezes, séria — é o saldo.
Mas a gente não desiste: sofre, se descabela, enlouquece de dor; só não abre mão de outra tentativa — seja junto da mesma pessoa ou de uma nova. O amor ainda é a maior manivela do mundo, sentimento que nos move e impulsiona, abre passagem para a esperança, renova e nos torna mais belos.
E se não se pode evitar o revés, há que se aprender de driblar os contratempos, não duvidando, nunca, de que apesar de um tanto complicado, é possível ser feliz junto de alguém — mesmo que, vez ou outra, o chão nos falte, a escuridão desça e a relação mais pareça um novelo emaranhado, bem distante do paraíso tão sonhado.
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