Desde que aprendeu a ler, aos cinco anos, enganava a mãe – que pensava que ela dormia, enquanto se embalava nos Contos de Fadas sob a lâmpada fraca do abajur. Quando estava com nove anos, a professora notou que comprimia os olhos para focar a lousa: decretaram-lhe a vista cansada. Aos quinze anos, usando lentes de contato, ninguém notava que os olhos azuis escondiam um defeito: seis graus de miopia. Depois de doutorar-se em Artes e viajar pelo mundo, aportou na França. Nos anos que se seguiram, com a impressão de que suas janelas para o mundo diminuíam, ela experimentou óculos de todas as cores, formatos e lentes – de grifes renomadas a outras nem tanto. Trinta anos e centenas de ilustrações premiadas depois, novas sombras lhe turvavam a percepção, e os traços ganharam contornos imprecisos que angariavam ainda mais admiradores. Mas só ela sabia que desenhava retratos sob as luzes de Paris, enquanto perdia a visão.
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